A Editora Valentina divulgou a capa de Originais o quarto livro da Saga Lux.
Daemon fará o que for preciso para ter a Katy de volta.Após a bem-sucedida, porém desastrosa, incursão a Mount Weather, ele está tendo que encarar o impensável. Katy foi capturada. Sua única meta agora é encontrá-la. Destruir qualquer um que se ponha em seu caminho? Com todo prazer. Incendiar o planeta inteiro para salvá-la? Moleza. Expor sua própria raça ao mundo? Sem problema.Tudo o que a Katy pode fazer é sobreviver.Cercada por inimigos, a única maneira que ela tem de sair dessa é se adaptando. Afinal, nem todas as facetas do Daedalus são totalmente malucas, embora os objetivos do grupo sejam assustadores e as verdades propagadas ainda mais perturbadoras. Quem é de fato o inimigo? O Daedalus? A humanidade? Ou os Luxen?Juntos, eles podem encarar o que vem pela frente.No entanto, a pior de todas as ameaças esteve escondida o tempo inteiro. Quando as verdades vierem à tona e as mentiras forem enfim desmascaradas, de que lado o Daemon e a Katy decidirão ficar? E será que eles conseguirão, pelo menos, continuar juntos?
O lançamento está previsto para Novembro, e para deixar um gostinho de quero mais a editora liberou o primeiro capítulo.
Originais – Saga Lux livro 4 – 1º capítulo
Katy
Eu estava
pegando fogo de novo. Pior do que quando havia ficado doente por conta da
mutação ou de quando tivera ônix borrifado na cara. As células mutantes no meu
corpo ricocheteavam como se quisessem furar a pele. Talvez quisessem. Era como
se minhas entranhas estivessem expostas. Uma leve umidade cobria minhas
bochechas.
Lágrimas,
percebi com alguma dificuldade.
Lágrimas de
dor e de raiva — uma fúria tão possante que me deixava com um gosto de sangue no
fundo da garganta. Talvez fosse isso mesmo. Talvez eu estivesse me afogando no
meu próprio sangue.
Não me
lembrava muito bem do que havia acontecido após as portas se fecharem. As
últimas palavras do Daemon assombravam todo e qualquer momento de consciência. Eu
te amo, Kat. Sempre te amei e sempre te amarei.
Escutara,
então, uma espécie de chiado quando as portas se fecharam e me vira sozinha com
os Arum.
Acho que
eles tinham tentado me comer.
Tudo ficou
subitamente preto, até que acordei neste mundo onde o simples ato de respirar
era um sofrimento. Pensar na voz dele, em suas palavras,
aplacou parte da dor. Mas então me lembrei do sorriso do Blake enquanto
segurava o colar com a opala — meu colar; o que o Daemon havia feito para mim
antes de partirmos para a incursão — e a raiva aumentou. Eu tinha sido
capturada e não sabia se meu namorado havia conseguido escapar com o resto dos
nossos amigos.
Não sabia
de nada.
Forcei-me
a abrir os olhos, piscando ao ser ofuscada pelas luzes fortes que reluziam
acima. Por um momento, não consegui distinguir nada. Tudo parecia estar envolto
numa espécie de halo. Por fim, minha visão clareou e consegui enxergar um teto
branco atrás das luzes.
— Ótimo.
Você acordou.
Apesar da
queimação terrível, meus músculos tencionaram ao escutar a desconhecida voz
masculina. Tentei me virar na direção do som, mas uma dor excruciante se
espalhou pelo meu corpo, fazendo meus dedos dos pés se contraírem. Não
conseguia mexer o pescoço, os braços ou as pernas.
Meu
sangue gelou. Estava presa por algemas nos pulsos e nos tornozelos, e uma
coleira no pescoço, tudo revestido em ônix. A súbita sensação de pânico me
roubou o ar dos pulmões. Pensei nos hematomas que o Dawson tinha visto no
pescoço da Beth e estremeci com um misto de revolta e medo.
Escutei o
eco de passos se aproximando e, de repente, um rosto bloqueou a luz. Era um sujeito mais velho, por volta dos cinquenta, e seus cabelos escuros
cortados rente à cabeça eram entremeados por fios grisalhos. Ele usava um
uniforme militar verde-escuro. Três fileiras de coloridas comendas decoravam o
lado esquerdo do peito, enquanto o direito ostentava um emblema de águia com as
asas abertas. Mesmo em meio à confusão e à dor, percebi que o sujeito era
importante.
— Como
está se sentindo? — perguntou ele numa voz sem entonação.
Pisquei
lentamente, imaginando se o cara estava falando sério.
— Tudo…
tudo dói — grunhi.
— É por
causa das algemas, mas acredito que você já saiba. — Estendeu o braço para algo
ou alguém atrás dele. — Tivemos que tomar certas precauções ao transportá-la.
Me
transportar? Encarei-o, o coração acelerado. Onde diabos eu estava? Ainda em
Mount Weather?
— Eu sou o
sargento Jason Dasher. Vou soltá-la para que possamos conversar e examiná-la.
Está vendo aqueles pontos escuros no teto? — perguntou. Acompanhando o olhar
dele, vi alguns pontos quase imperceptíveis. — É uma mistura de ônix e
diamante. Você já conhece o efeito, portanto, se tentar nos atacar, a sala
inteira será imersa numa nuvem de ônix. Qualquer tolerância que tenha conseguido
desenvolver será inútil aqui.
A sala
inteira? Em Mount Weather, ele tinha sido apenas borrifado nos nossos rostos.
Não liberado num fluxo incessante.
— Você
sabia que os diamantes possuem o maior índice de refração da luz? Embora não
provoquem a mesma dor que o ônix, em grandes quantidades e aliado ao ônix, eles
possuem a capacidade de drenar um Luxen, deixando-o incapaz de recorrer à
Fonte. O efeito será o mesmo em você.
Bom saber.
— Como
medida de precaução, a sala também é revestida — continuou ele, os olhos
castanho-escuros fixos nos meus. — Para o caso de você conseguir, ainda assim,
invocar a Fonte ou atacar qualquer membro da minha equipe. Com vocês, híbridos,
nunca sabemos a extensão dos seus poderes.
No
momento, não acreditava que seria sequer capaz de me sentar sem ajuda, que dirá
dar uma de ninja para cima de alguém.
—
Entendeu? — Ergueu o queixo enquanto esperava. — Não queremos machucá-la, mas
iremos neutralizá-la caso você nos ameace. Compreendeu, Katy?
Eu
preferia não responder, mas queria me livrar daquelas malditas algemas.
— Sim.
— Ótimo. —
Ele sorriu, mas o sorriso pareceu meio forçado e não muito amigável. — Não
queremos vê-la com dor. Não é disso que se trata o Daedalus. Não somos
torturadores. Você pode não acreditar agora, mas temos esperanças de que venha
a compreender nosso propósito. A verdade por trás da nossa existência e da dos
Luxen.
— É meio
difícil… acreditar nisso agora.
O sargento
Dasher pareceu aceitar a resposta e estendeu a mão em direção a algum ponto
debaixo da mesa. Seguiu-se um clique alto e, então, as algemas e a coleira se
abriram automaticamente.
Com um
suspiro trêmulo, ergui lentamente um dos braços. Meu corpo inteiro alternava
entre pontos de dormência e hipersensibilidade.
Ele pousou
uma das mãos no meu braço, fazendo-me retrair.
— Não vou
te machucar — disse. — Só quero ajudá-la a se sentar.
Levando em
conta que eu não tinha qualquer controle sobre meus membros trêmulos, não
estava em condições de protestar. Em questão de segundos, o sargento me colocou
sentada. Agarrei-me às beiradas da mesa para me firmar e inspirei fundo algumas
vezes. Minha cabeça pendia do pescoço como um fio de espaguete cozido demais, e
meus cabelos, caídos em torno do rosto, bloquearam por um momento a visão da
sala.
— Você
deve estar um pouco tonta. Vai passar logo.
Ao erguer
a cabeça, vi um homem baixo e careca, vestido com um jaleco branco, parado ao
lado da porta de um preto tão brilhante que refletia todo o interior da sala.
Ele segurava um copinho de papel numa das mãos e o que me pareceu uma
braçadeira de um medidor de pressão arterial na outra.
Corri os
olhos lentamente pela sala. Mais parecia um estranho consultório médico,
repleto de mesinhas com instrumentos cirúrgicos, armários e tubos pretos presos
às paredes.
Ao receber
um sinal do sargento, o homenzinho de jaleco se aproximou da mesa e, com
cuidado, trouxe o copo até minha boca. Bebi avidamente. A água gelada aplacou
um pouco a queimação em minha garganta, mas bebi rápido demais e acabei com um
acesso de tosse ao mesmo tempo alto e dolorido.
— Sou o
dr. Roth, um dos médicos da base. — Ele botou o copo de lado e, metendo a mão
no bolso do jaleco, puxou um estetoscópio. — Vou apenas auscultar seu coração,
ok? E, em seguida, medir sua pressão arterial.
Contraí-me
novamente ao senti-lo pressionar o metal gelado contra minha pele.
Ele,
então, o posicionou em minhas costas.
— Inspire
fundo. — Acatei a ordem, e o médico repetiu as instruções. — Ótimo. Agora,
estique o braço.
Obedeci de
novo e imediatamente reparei no vergão vermelho que circundava meu pulso. Havia
outro idêntico em torno da outra mão. Engoli em seco e desviei os olhos. Estava
prestes a ter um colapso nervoso, o que só piorou quando fitei o sargento. Seus
olhos não eram exatamente hostis, mas pertenciam a um estranho. Eu estava
absolutamente sozinha — com estranhos que sabiam o que eu era e que tinham me
capturado com um propósito.
Minha
pressão devia estar nas alturas, a julgar pelo pulsar em minhas veias e pelo
aperto em meu peito, o que não podia ser bom sinal. Ao sentir a braçadeira
começar a desinflar, inspirei fundo diversas vezes e perguntei:
— Onde
estou?
O sargento
Dasher entrelaçou as mãos atrás das costas.
— Nevada.
Olhei para
ele e, em seguida, para as paredes — completamente brancas exceto pela profusão
de pontinhos pretos brilhantes.
— Nevada?
Isso… isso fica do outro lado do país. Num fuso horário diferente.
Silêncio.
De
repente, a ficha caiu. Deixei escapar uma risada estrangulada.
— Área 51?
Seguiu-se
outro momento de silêncio, como se eles não pudessem confirmar a existência de
tal lugar. Maldita Área 51. Não sabia se devia rir ou chorar.
O dr. Roth
soltou a braçadeira.
— A
pressão dela está um pouco alta, mas já era de esperar. Gostaria de fazer um
exame mais minucioso.
Imagens
terríveis de apalpadas e espetadelas invadiram minha mente. Eu pulei da mesa o
mais rápido que pude e tentei me afastar dos homens, as pernas mal aguentando
meu peso.
— Não.
Vocês não vão fazer isso. Não podem…
— Podemos,
sim — interrompeu-me o sargento. — De acordo com a Lei Patriótica, podemos
apreender, realocar e deter qualquer um, humano ou não, que configure risco à
Segurança Nacional.
— O quê? —
Bati com as costas na parede. — Não sou uma terrorista.
— Mas é um
risco — retrucou ele. — Esperamos mudar isso, mas como pode ver, seu direito à
liberdade foi revogado no momento em que você passou pela mutação.
Minhas
pernas cederam e eu escorreguei parede abaixo, caindo sentada com força.
— Não
posso… — Meu cérebro se recusava a processar aquela situação. — Minha mãe…
O sargento
não disse nada.
Minha mãe…
ai, meu Deus, minha mãe devia estar enlouquecendo. Apavorada e devastada. Ela
jamais se recuperaria.
Fechei os
olhos e pressionei a testa com as mãos.
— Isso é
tão errado!
— O que
você imaginou que iria acontecer? — perguntou Dasher.
Abri os
olhos, respirando com dificuldade.
— Vocês
acharam que conseguiriam invadir um órgão do governo e sair sem que nada
acontecesse? Que não haveria consequências? — Ele se agachou diante de mim. —
Que um grupo de adolescentes, alienígenas ou híbridos, conseguiria chegar tão
longe sem que a gente permitisse?
Meu corpo
inteiro gelou. Boa pergunta. O que a gente estava
esperando? Suspeitávamos de que pudesse ser uma
armadilha. Eu chegara basicamente a me preparar para tanto, mas não podíamos
deixar a Beth apodrecendo naquele lugar. Nenhum de nós conseguiria viver com
isso.
Ergui os
olhos para o sargento.
— O que… o
que aconteceu com os outros?
— Eles
escaparam.
O alívio
foi imediato. Pelo menos o Daemon não estava trancafiado em algum lugar. Saber
disso me deu certo conforto.
— Para ser
honesto, só precisávamos capturar um de vocês. Ou você ou o que te transformou.
Qualquer um dos dois irá atrair o outro. — Fez uma pausa. — No momento, Daemon
Black está desaparecido, mas a gente acredita que isso não vai durar muito.
Sabemos por experiência que o vínculo entre um Luxen e o humano transformado
por ele ou ela é bastante intenso, especialmente entre um homem e uma mulher.
E, pelo que pudemos observar, vocês dois são extremamente… próximos.
O alívio
que eu sentira evaporou no mesmo instante, substituído por um súbito medo. Não
fazia sentido fingir que não sabia do que ele estava falando, mas jamais
confirmaria que tinha sido o Daemon. Jamais.
— Sei que
está com medo e zangada.
— Tem
razão, estou sentindo uma boa dose dessas duas coisas.
—
Compreensível. Não somos tão ruins quanto você pensa, Katy. Tínhamos todo o
direito de recorrer a meios letais quando a capturamos. Poderíamos ter matado
seus amigos. Mas não matamos. — Ele se levantou e entrelaçou as mãos novamente.
— Você vai ver que não somos o inimigo aqui.
Não eram o
inimigo? Eram, sim —
uma ameaça pior do que um pelotão inteiro de Arum —, porque tinham o respaldo
do governo. Porque
podiam simplesmente pegar uma pessoa e afastá-la de tudo — da família, dos
amigos, de toda uma vida —, sem nenhuma consequência.
Eu estava
totalmente ferrada.
Quando me
dei conta da real situação em que me encontrava, meu já escasso autocontrole se
desfez por completo. Fui tomada por um pavor profundo, que rapidamente se transformou
em pânico, produzindo um tenebroso misto de emoções estimuladas pela
adrenalina. A razão deu lugar ao instinto — não um instinto nato, mas que fora
moldado pelo que eu me tornara após ser curada pelo Daemon.
Coloquei-me
de pé num pulo. Meus músculos doloridos gritaram em protesto, e o movimento
súbito me deixou tonta, mas continuei em pé. O médico deu alguns passos para o
lado, empalidecendo enquanto estendia a mão para a parede. O sargento, por sua
vez, sequer piscou. Não parecia nem um pouco apreensivo.
Com todas
as violentas emoções que fervilhavam dentro de mim, invocar a Fonte deveria ter
sido fácil, mas não encontrei nada, nem aquela sensação de expectativa de
quando você está no topo de uma montanha-russa, nem um brotar de estática em
volta da pele.
Não havia
nada.
Ainda que
minha mente estivesse embotada pelo horror e pelo pânico, a realidade se
insinuou lentamente, lembrando-me de que não podia recorrer à Fonte ali.
— Doutor?
— chamou o sargento.
Eu
precisava de uma arma. Contornando o oficial, segui para a mesa com os
instrumentos cirúrgicos. Não tinha a menor ideia do que iria fazer se
conseguisse escapar daquela sala. A porta talvez estivesse trancada. Naquele
momento, porém, não conseguia pensar em nada. Apenas tinha que dar o fora dali.
Tipo, imediatamente.
Antes que
conseguisse alcançar a bandeja, o médico deu um tapa na parede. Seguiu-se um
tenebroso e familiar som de algo sendo liberado numa série de pequenos
borrifos. Não houve outro aviso. Nenhum cheiro. Nenhuma mudança na consistência
do ar.
De
qualquer forma, aqueles pequenos pontos no teto e nas paredes estavam
pulverizando ônix no ambiente, e não havia para onde escapar. Fui acometida por
um horror profundo. Senti a respiração ser cortada enquanto uma dor causticante
brotava em meu escalpo e se espalhava por todo o meu corpo. Como se alguém
tivesse me encharcado com gasolina e ateado fogo, fazendo com que labaredas
lambessem minha pele. Minhas pernas cederam e caí de joelhos no chão. O ar
saturado de ônix arranhava minha garganta e queimava meus pulmões.
Fechei-me
numa bola, fincando os dedos no chão e abrindo a boca num grito silencioso. Meu
corpo foi tomado por espasmos incontroláveis à medida que o ônix invadia cada
célula. Aquilo parecia não ter fim. Não havia a menor esperança de que o fogo
pudesse ser aplacado pelo raciocínio rápido do Daemon. Ainda assim, chamei por
ele em silêncio repetidas vezes, mas não obtive resposta.
Meu mundo
fora reduzido a uma única sensação: dor.
Daemon
Trinta
e uma horas, quarenta e dois minutos e
vinte segundos tinham se passado desde que as portas se fecharam, me separando
da Kat. Trinta e uma horas, quarenta e dois minutos e dez segundos desde que a
vira pela última vez. Kat estava nas mãos do Daedalus havia trinta e uma horas
e quarenta e um minutos.
A cada
segundo, minuto e hora eu enlouquecia um pouco mais.
Eles
haviam me prendido numa cabana simples, com um único aposento. Na verdade, uma
prisão adornada com tudo o que pudesse enfurecer um Luxen, mas isso não me
deteve. Explodi a porta e o Luxen que tinha sido posto de vigia. Uma fúria
indescritível me consumia, envolvendo minhas entranhas como ácido enquanto eu
ganhava velocidade e passava em disparada pela fileira de cabanas, evitando a
área residencial e seguindo direto para as árvores que circundavam a colônia
Luxen, escondida na base das Seneca Rocks. Na metade do caminho, percebi um
borrão branco vindo em minha direção.
Eles iam
tentar me deter? Nem sonhando.
Parei de
supetão. A luz passou direto por mim e se virou. Em sua forma alienígena com
contornos humanos, o Luxen parado diante de mim brilhava tanto que iluminava as
árvores escuras às suas costas.
Só estamos tentando protegê-lo, Daemon.
Da mesma
forma que o Dawson e o Matthew achavam que conseguiriam me proteger me
nocauteando lá em Mount Weather e depois me trancafiando numa cabana. Ah, eu
tinha uma tremenda conta a acertar com aqueles dois.
Não queremos te machucar.
— Que
pena! — Estalei o pescoço. Vários outros Luxen se aproximavam por trás de mim.
— Porque não tenho o menor problema em machucar vocês.
O que
estava à minha frente estendeu os braços.
Não precisa ser assim.
Não havia
outro jeito. Abandonar minha forma humana foi como tirar uma roupa apertada
demais. Um brilho avermelhado se espalhou pela relva como sangue. Vamos acabar logo com isso.
Nenhum
deles hesitou.
Nem eu.
O Luxen
avançou num borrão de membros brilhantes. Mergulhei por baixo dos braços dele e
me levantei rapidamente. Agarrando-o pelos punhos, dei um chute no meio de suas
costas. Assim que ele caiu, outro tomou seu lugar.
Pulei de
lado ao mesmo tempo que estendia o braço e derrubava o segundo. Agachei-me,
então, escapando por um triz de uma bota com meu nome gravado na sola. O
combate físico era mais do que bem-vindo. Despejei toda a fúria e frustração
numa série de socos e chutes, nocauteando mais três.
Uma bola
de luz cortou a escuridão. Agachei de novo e dei um soco no chão, levantando
terra e produzindo uma onda de choque que lançou o maldito Luxen no ar. Pus-me
de pé num pulo e o agarrei. Eu emitia uma luz tão intensa que, por um momento,
a noite se transformou em dia.
Girei e o
arremessei como um disco.
Ele bateu
contra uma das árvores e despencou no chão, mas rapidamente se levantou.
Avançou de novo, deixando um rastro de luz branca debruada de azul, tal como a
cauda de um cometa. Com um grito de batalha desumano, lançou em minha direção
uma bola de energia de proporções nucleares.
Ah, então
era assim que ele queria brincar?
Desviei o
corpo para o lado; a bola passou zunindo e se apagou. Recuando um passo,
invoquei a Fonte e deixei o poder se espalhar por todo o meu corpo. Bati com o
pé no chão, criando uma cratera e outra onda de choque que desequilibrou o
Luxen. Em seguida, estendi o braço e liberei a Fonte. Ela espocou de minha mão
como o tiro de um revólver, acertando-o em cheio no peito.
O Luxen
caiu, ainda vivo, porém tomado por espasmos.
— O que
você pensa que está fazendo, Daemon?
Ao escutar
a voz sem entonação do Ethan Smith, me virei. O antigo, que continuava em sua
forma humana, estava parado alguns metros atrás de mim, em meio aos Luxen que
eu derrubara. Meu corpo vibrou com o poder não liberado. Eles não deviam ter tentado me deter. Nenhum de vocês deveria
ter tentado fazer isso.
Ethan
entrelaçou as mãos diante do peito.
— Você não
devia estar disposto a arriscar sua comunidade por uma garota humana.
Havia uma
boa chance de que ele viesse a ser meu próximo alvo. Não vou discutir com você sobre a Kat.
— Nós
somos a sua espécie, Daemon. — Ele deu um passo à frente. — Você tem que ficar
conosco. Ir atrás dessa humana só irá…
Estendi o
braço e agarrei pelo pescoço o Luxen que tentava se aproximar sorrateiramente.
Virei-me para ele ao mesmo tempo que ambos reassumíamos nossa forma humana.
Seus olhos brilhavam, amedrontados.
— Jura? —
grunhi.
— Merda —
murmurou ele.
Suspendi o
filho da mãe no ar e o derrubei com toda a força no chão, esganando-o. Terra e
pedrinhas voaram para todos os lados enquanto eu me empertigava e voltava a
atenção para o Ethan.
O antigo
empalideceu.
— Você
está lutando contra sua própria espécie, Daemon. Isso é imperdoável.
— Não
estou pedindo perdão. Não estou pedindo porra nenhuma.
— Você
será expulso da comunidade — ameaçou ele.
— Adivinha
só? — Recuei alguns passos, mantendo um olho fixo no Luxen caído, que começara
a se recobrar. — Não dou a mínima.
A
expressão até então calma e quase dócil do Ethan desapareceu, e foi substituída
pela raiva.
— Acha que
eu não sei o que você fez com aquela garota? O que seu irmão fez com a outra?
Ambos provocaram isso. É por esse motivo que não nos misturamos com eles.
Humanos só nos criam problemas. E você vai criar também, vai atrair a atenção
do governo para nós. Não precisamos disso, Daemon. Você está arriscando demais
por conta de uma simples humana.
— Esse planeta
é deles — retruquei, surpreso comigo mesmo pela declaração, mas era verdade.
Repeti as palavras que a Kat dissera uma vez: — Nós somos os convidados aqui,
meu chapa.
Ethan
estreitou os olhos.
— Por
enquanto.
Inclinei a
cabeça ligeiramente de lado ao escutar isso. Não era preciso ser um gênio para
perceber que era um aviso, mas, por ora, minha prioridade era a Kat.
— Não me
sigam.
— Daemon…
— Estou
falando sério, Ethan. Se você ou qualquer outro vier atrás de mim, não vou ser
tão condescendente.
O antigo
bufou.
— Ela vale
tudo isso?
Um
calafrio percorreu minha espinha. Sem o apoio da comunidade Luxen, eu estaria
sozinho. Não seria bem-vindo em nenhuma das outras colônias. A notícia se
espalharia rápido; Ethan se certificaria disso. Ainda assim, não tive sequer um
momento de hesitação.
— Vale —
respondi. — Ela é tudo.
Ethan
inspirou fundo.
— Não
apareça mais aqui.
— Que
assim seja.
Eu girei
nos calcanhares e parti em disparada por entre as árvores, seguindo para casa.
Estava confuso demais. Não tinha sequer um plano. Nada de concreto. Mas sabia
que ia precisar de algumas coisas. Em primeiro lugar, dinheiro. E um carro. Ir
correndo até Mount Weather não era uma opção. Mas voltar para casa ia ser
difícil, principalmente porque o Dawson e a Dee estariam lá — e tentariam me
impedir.
A essa
altura, queria vê-los tentar.
No
entanto, enquanto contornava a montanha rochosa e ganhava velocidade, as
palavras do Ethan ecoaram em minha mente. Ambos
provocaram isso. Será? A resposta era simples e estava na minha
cara. Dawson e eu tínhamos colocado as meninas em perigo pelo simples fato de
termos nos interessado por elas. Nenhum de nós imaginava que elas se
machucariam, ou que a cura iria transformá-las em algo não exatamente humano
nem
Luxen. Mas
sabíamos dos riscos.
Eu mais do
que ninguém.
Por isso
tinha tentado afastar a Kat no começo, fazendo de tudo para mantê-la longe da
Dee e de mim. Em parte pelo que havia acontecido com o Dawson, mas também
porque os riscos eram muitos. No entanto, acabei trazendo-a para esse mundo.
Dei a mão a ela e praticamente a arrastei. E olha o que aconteceu.
Não era
para ter sido assim.
Se era
para alguém ser capturado em Mount Weather, esse alguém era eu. Não a Kat.
Jamais ela.
Amaldiçoando
por entre os dentes, alcancei um trecho do terreno iluminado por um luar
prateado segundos antes de deixar a mata. Sem me dar conta do que estava
fazendo, diminuí a velocidade.
Meu olhar
recaiu direto sobre a casa da Kat, e meu peito apertou.
A casa
estava escura e silenciosa, como estivera por vários anos antes que ela se
mudasse. Uma carcaça vazia e sem vida.
Parei ao
lado do carro da mãe dela e soltei um suspiro entrecortado que não ajudou em
nada a aliviar a pressão em meu peito. Sabia que estava escuro demais para que
alguém conseguisse me ver. De qualquer forma, não me importaria de ser
capturado pelo DOD ou o Daedalus. Seria mais fácil assim.
Fechei os
olhos e visualizei a Kat saindo pela porta da frente, usando aquela maldita
camiseta com os dizeres Meu Blog É Melhor Que O Seu Vlog. Aqueles shorts…
aquelas pernas…
Cara, eu
tinha sido um verdadeiro babaca, mas ela não se deixara intimidar.
Nem por um
segundo.
Uma luz se
acendeu em minha casa. Um segundo depois, a porta da frente abriu e Dawson saiu
para a varanda. A brisa trouxe uma leve maldição.
Precisava
reconhecer que o Dawson parecia mil vezes melhor do que da última vez que o
vira. As olheiras escuras tinham praticamente desaparecido. E ele engordara um
pouco. Tal como antes de o DOD e o Daedalus o capturarem, seria quase
impossível distinguir qualquer diferença entre nós, exceto pelo fato de os
cabelos dele serem mais compridos e bagunçados. É, meu irmão estava com cara de
quem havia ganhado na loteria. Mas, também, ele conseguira resgatar a Bethany.
Isso soava
como inveja, eu sabia, mas não dava a mínima.
Assim que
pisei no primeiro degrau, uma onda de choque rachou o cimento da escada e
chacoalhou as tábuas do piso da varanda.
Dawson
empalideceu e recuou um passo. Fui tomado por uma doentia sensação de
satisfação.
— Não
esperava me ver?
— Daemon.
— Ele bateu com as costas na porta. — Sei que você está puto.
Eu liberei
outra explosão de energia que acertou as ripas do telhado. A madeira estalou.
Uma rachadura surgiu no meio da viga central. A Fonte se espalhou pelo meu
corpo, modificando minha visão e fazendo com que o mundo se tornasse todo
branco.
— Você não
faz ideia.
—
Queríamos mantê-lo em segurança até descobrirmos o que fazer… como resgatar a
Kat. Só isso.
Inspirei
fundo e me aproximei dele até ficarmos cara a cara.
— E vocês
acharam que me prender na colônia era a melhor opção?
— A gente…
— Que
conseguiriam me deter? — Outra explosão de poder acertou a porta atrás do
Dawson, arrancando-a das dobradiças. — Vou salvá-la nem que para isso precise
incendiar o planeta inteiro.
Não conhecia essa saga mas depois da resenha e desse 1º capítulo eu fiquei realmente muito curiosa pra ler. Já vou colocar na lista de desejados.
ResponderExcluirQue inicio eletrizante :D Essa série é maravilhosa e vale super a pena a leitura *__*
ResponderExcluirLivro 4 e eu não li nem consegui nenhum ainda D=
ResponderExcluirBem, só resta esperar que tenha lançamento da série toda bem rapidinho. Seria legal ter todos pra ler de uma vez. E nem vou dizer que amei essa capa xD
E os fãs da série Lux vão ao delírio. Devem estar ansiosos. Não faz meu tipo de livro, mas espero que continue mantendo o encanto que conquistou os fãs.
ResponderExcluirOlá, não conheço a série, mas ela aparenta contar com uma boa dose de ação e um toque sobrenatural que chama a atenção. Beijos.
ResponderExcluirBom, confesso que não gostei muito da capa, achei bem "artificial". Mas gostei do primeiro capitulo, parece ser muito bom!
ResponderExcluirnão conhecia a série, mas estou louca pra ler.
Ansiosa pro lançamento!
Beijos.
Oi Patty,
ResponderExcluirLi só o primeiro livro da série, mas já me apaixonei pela história e escrita da autora. Não gostei tanto da capa, pois ela difere do trabalho gráfico que já vinha sendo feito nos livros anteriores.
Estou ansiosa para dar continuidade na história e espero adquirir os livros logo!!
Oi Patty.
ResponderExcluirEu não gostei dessa capa, kkkk.
Eu ja ouvir falar dessa autora, inclusive ja li o começo do primeiro, porém tinha muitas leituras acumuladas e não conseguir concluir a leitura, porém pretendo retomar muito em breve a leitura e adorei saber desse lançamento.
P.S adorei o trecho.
Bjs.
Que legal disponibilizar o primeiro capítulo. Quem já gosta da série deve ter ficado bem feliz, rs.
ResponderExcluirConfesso que não gosto desse tipo de leitura, então não me atraiu. Achei a capa bem feia também, rs.
Beijos.
Oi, Patty!!
ResponderExcluirTenho os dois primeiros livros da série e estou louca para comprar o terceiro!! Agora tenho que comprar esse também!! Também não gostei da capa. Kkk
Beijooss
Estou querendo ler a Saga Lux desde o lançamento do primeiro livro!
ResponderExcluirMuito legal a capa de Originais, o quarto livro da série.
Achei bem legal a Editora disponibilizar o primeiro capítulo, quem acompanha a série deve estar bem ansioso para conferir a história de Originais.
Oi Patty.
ResponderExcluirQuero muito ler essa saga! Tenho uma amiga que fala muito bem dela.
Vc sabe quantos livros são no total?
Não li o primeiro capítulo postado para não pegar spoilers sobre os outros livros rs
Não gosto muito de capas com modelos. Mas pelo menos as capas dessa saga são bem coerentes umas com as outras.
Bjs
Confesso que só tinha visto a capa do livro por ai, mas nunca li resenha nem nada.Ando " fugindo" de iniciar outras séries, apesar do capitulo ser bem interessante.
ResponderExcluirOi Patty! Tai uma série que eu não consigo gostar ): Li o primeiro livro e achei bem mais ou menos, mas fico feliz da Valentina continuar lançando a série.
ResponderExcluirPatty!
ResponderExcluirTenho a maior vontade de ler essa série e esse exemplar está com a cpa bem moderna e linda!
Gostei do pequeno resumo degustação...
Desejo um ótimo final de semana!
“Todo o nosso saber se reduz a isto: renunciar à nossa existência para podermos existir.” (Johann Goethe)
Cheirinhos
Rudy
TOP COMENTARISTA DE OUTUBRO 3 livros, 3 ganhadores, participem.
Oi! Nem li o primeiro capitulo, pois infelizmente ainda não consegui comprar o segundo volume da série. Quando eu li o primeiro livro (em um dia e meio, por sinal), eu me encantei pela obra e tudo presente nela. Não vejo a hora de continuar acompanhando os personagens! Beijos
ResponderExcluirOie!
ResponderExcluirEu sou louca para começar essa série, tenho o primeiro livro aqui, mas confesso que dei uma desanimada de uns tempos para cá, rs.
Quem quem sabe até o fim desse ano? :)
Bjs!
Oi Patty,
ResponderExcluirFaz tempo que a Saga Lux está na minha lista de desejados, já vi vários comentários positivos sobre essa história que me deixaram bem animada. O alienígena está dando o que falar haha até filme vai ter!
Tinha me programado para ler o primeiro livro pelo menos ainda nesse ano, mas pelo jeito não vai dar, vou ter que adiar para o próximo ano. Mas olhando o lado positivo, quando começar a ler, já vou ter a minha disposição os quatros livros ;)
Beijos
Olá!
ResponderExcluirSe não me engano, já tinha lido resenha sobre essa serie, a premissa me pareceu super interessante. O primeiro capitulo deixou eu super curiosa pela continuação, já alistei na lista de desejados.
Meu Blog: https://tempoliterarios.blogspot.com.br/
A história parece interessante e a capa ficou bem bacana!!
ResponderExcluirEu não acredito que estou tão atrasada assim na série!
ResponderExcluirLi o primeiro e fiquei fascinada pela trama, preciso correr para ler o segundo.
Essa capa está maravilhosa,assim como as outras que também ficaaram um arraso.
beijos
Oi Patty ;)
ResponderExcluirLi apenas o primeiro da série e lembro que amei a trama e os personagens, esse mundo com seres diferentes que a autora criou é bem intrigante e com certeza quero voltar a ler e saber como termina a história.
A capa de Originais ficou magnífica, e vi que os fãs da série gostaram bastante também.
Bjos
IG Literário: @sentencaliteraria
Ola Patty,
ResponderExcluirSempre leio criticas positivas sobre esse serie que ate ja coloquei na minha lista pra ler.
Espero ter a oportunidade de começar logo.